Esqueci o alho fritando no fogo. O cheiro forte, espalhado pelos cantos da casa, foi que me recordou a panela queimando. Não blasfemei, nem me puni pelo esquecimento. Agi com naturalidade. Em outros tempos, ficaria fula por estragar uma quantia considerável de alho e ainda perder tempo. Mas, hoje, compreendo que ando muito ocupada e corro o risco de sempre esquecer alguma coisa. Peguei alhos frescos. Segurei o cabo do soquete bem firme, como se estivesse segurando um martelo em posição contrária. Bati com força, até esmigalhar o alho, que antes não fazia ideia que passaria pela bigorna. O acontecimento me fez refletir a posição das mulheres na sociedade. Ando muito preocupada. Talvez porque eu mesma esteja vivendo o dilema de trabalhar fora e cuidar dos filhos.A ausência da mãe em casa colabora para o desmoronamento da sociedade. Crianças não podem ficar sozinhas. "Amarram chifre na cabeça de cavalo". Diante das pressões, as mulheres são socadas como alho na panela, esquecidas pelo poder público que poderia ajudá-las a solucionar a questão com escolas eficientes de horário integral. - Marta! Marta! Te preocupas com muitas coisas, mas poucas delas são necessárias. Estas foram as palavras de Jesus a uma mulher que só vivia ocupada e que servem como lição para cada uma de nós.
Cabe-nos, então, discernir o essencial. Podemos até esquecer o alho no fogo. Só não podemos nos esquecer, que a família é uma prioridade. Extraído da 2ª Edição do Livro A Menina da Casa Preta de Selma Nardacci
© Todos os direitos reservados