Passei a escaldar os pés como ritual de purificação. A ideia surgiu por necessidade de me sentir limpa. Se uma pessoa toma banho e acaba sujando os pés, não precisa tomar banho de novo.
Eu estava assim: corpo limpo e pés sujos. Incomodada com um peso que me puxava para baixo. Foi aí que resolvi colocar os pés em água bem quente, o mais quente que pudesse suportar. Depois disso, lixei, sequei, hidratei e massageei um pé de cada vez, usando o mesmo tempo em cada um para não provocar ciúmes.
Quase levitei. A sensação era de que duas asas nasciam dos maléolos laterais, criando um ser mitológico de roupas leves em cores de marfim.
Agora sim, passei a entender o ritual de lava-pés e a técnica de levitação ensinada por Jesus. Ele mesmo lavou os pés de seus discípulos, e esta cena foi repetida lá em casa, pois as crianças, ao me verem lavar os pés, desejaram fazer o mesmo.
Foi uma fila de panelas no fogo, bacias e toalhas que completavam o serviço. Foi, Então, que me inspirei a escrever este texto, na certeza de que os leitores, por vontade ou curiosidade, buscariam a mesma sensação.
Houve época em que apenas as orações eram suficientes para que eu me sentisse melhor. Com o tempo passei a valorizar pequenos gestos, inventando rituais para chamar à atenção de Deus. Certa vez, tirei a roupa toda, permiti que Ele me assistisse num momento de "loucura". Dancei como como vim o mundo. Uni minhas partes que estavam espalhadas por três cantos da Terra.
A espiritualidade é assim... Completa-se com práticas que harmonizam tricotomicamente o homem, diminuindo o seu fardo.
"Vinde a mim, todos vós que estais cansados, oprimidos e sobrecarregados e Eu vos aliviarei." (Jesus).

Selma Nardacci dos Reis
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