Anel

ANEL
Não sou de usar joias ou bijuterias, mas gosto de anéis. Apenas um anel no dedo médio da mão esquerda. Mas não é anel simples; é espalhafatoso, exibido, cheio de parafernálias.
Aí, quando movimento a mão, só de propósito, escuto minhas amigas falarem:
- Nossa! Que anel lindo! Onde você comprou?
Finjo que não escuto, porque em questão de anel, gosto de exclusividade.
Mas outro dia usei um anel tão bonito que hipnotizou uma amiga muito querida, que insistiu em saber onde eu o havia adquirido. Acabei sendo generosa, levei-a até a loja, e, ao invés de um, ela comprou dois. Lá foi embora a minha exclusividade.
-“Deus te ajude”. Disse eu para ela brincando.
A expressão “Deus te ajude” tem dois sentidos, um literal e o outro metafórico. É que lá em casa, quando eu chegava com os presentes do Shopping, ia abrindo todos os pacotes e mostrando tudo no maior entusiasmo para a mamãe. Quando eu não trazia nada para ela, ela esbugalhava um olho grande e dizia: “- Deus te ajude!” Seria como dizer: “Nem trouxe para mim... Não estou com ciúmes; continue prosperando, mas não se esqueça da mamãe...”
Então, para ela não ficar triste, eu dava uma explicação furreca:
- Mas é porque não tinha nada do seu tamanho... Ah! Espere aí... Eu trouxe uma coisa sim, mas é um embrulho pequenininho: um anel.
E ela se conformava, mesmo sabendo que o anel não havia sido comprado para ela. Com tantos “balangandans”, eu é que acabava usando.
Mas não sei explicar porque gosto de anéis, talvez porque o anel tenha movimento. Ele dá golpes no ar, gesticula de mil modos diferentes.
O brinco, você põe e ele fica inerte, escondendo-se atrás dos fios de cabelo. O cordão, a mesma coisa; fica lá parado, como um artista coadjuvante, embelezando o colo sensual. A pulseira simula uma algema, que aprisiona. Mas o anel, não! Ele vai... Ele volta... Quanto mais frenética a mão, mas o danado aparece!
O anel tem seus mistérios... Os reis o usavam como símbolo de poder.
O filho pródigo, quando voltou arrependido para a casa paterna, o primeiro presente que recebeu foi um anel, como sinal de restituição de tudo que havia dissolutamente perdido.
Os super heróis também usam anéis que destilam poderes. Juntar um anel no outro, formando um alograma é como mudar o destino do mundo.
Anel bonito, igual ao que estou usando agora, não fica bem em qualquer pessoa. A bijuteria está relacionada ao conjunto da obra. Toma a expressão de quem a possui. Eis a razão de eu desejar a exclusividade.
Mas, se encontro alguém que se encanta com o meu anel, suponho que antes do anel, tenha se encantado comigo... Prova de que o brilho da joia reflete o meu próprio brilho. Por isso fico feliz e acabo informando o local onde encontrei excelente tesouro.
- “Deus te ajude!”
Selma Nardacci

Selma Nardacci dos Reis
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