I
A capital do estado da Guanabara
distante uma ponte de minha visão
hoje guarda silêncio
por respeito ao meu coração
vazio por muitos motivos
distante por obrigação

Daqui vejo o antigo Distrito Federal
e olho a imagem mais significativa
do poderio da arquitetura brasileira:
eram os sonhos de pátria altiva
escondendo o silêncio das esquinas
- hoje a ponte parece ser viva...

II
(message from Europe)
Ela diz:
- Estou grávida, é pra Junho
espero que esteja tudo bem aí
aproveite bem o frio
faz calor por aqui
morro de saudades do Rio
lá em casa o pessoal tá feliz!

III
Agora você entende porquê me silencio
quando falam dessa parte da Europa.
não, Augusto, não sou eu que estou lá.
Acha graça? Do que ri?
Não sou o pai, Augusto.
Sei que ela prometeu, mas são 5 anos, Augusto.
Ela não me esperou.

IV
Eu daqui de cima,
da velha caixa de água desativada
lembro de seu telegrama exultante
achando que dava boa notícia
- sua e de seu macho aí distante...

Me vingo de você vendo do alto
uma cidade, a ponte e a outra cidade.
Gargalhando porque sei
que o que eu fui pra você
(ao menos isso)
ninguém mais poderá ser...

V
Em Junho
a mais antiga capital da Europa
não vai parar pra receber esta criança
mas eu, daqui dessa cidade que nessa época
faz tanto frio que não se vê o vizinho,
eu vou estar contigo...

Segurando sua mão como combinamos
quando tínhamos 18, 19, 20 ou 21
e esperávamos pelo ônibus em frente ao mercado,
nos mantendo aquecidos pelo abraço.
sonhando com quando os filhos chegassem.

VI
Não, Augusto, não ria.
Eu gosto de crianças, mas não tenho filhos.
Eu cumpro minha palavra.
Essa criança é só dela.

Karl
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