CAMINHADA
Por: William Vicente Borges
 
Na minha frente o caminho
Cheio de pedras
Depois da primeira curva
Espinhos de roseira
Na primeira encruzilhada
Sonhos que se perderam
De um lado e do outro abismo
E nos acompanhando
Segredos que  só nós conhecemos
 
A jornada parece mais vazia a cada passo
É preciso buscar algo para confiar
Os rostos são estranhos
As intenções bastante temerárias
Tomo fôlego, corro, mas não avanço muito
Há portas que não entro
Há visões que não acredito
Sigo a esquizofrenia da fantasia do ser
Passam por mim cobras e lagartos
Não como, não bebo, tudo dói
 
O final da caminhada
Não vejo, não enxergo
Mas ela sempre parece breve
Sempre parece que o fim está
bem ali me esperando
as vezes ligo, as vezes não
caminho
uma moça com blusa de bolinhas
me faz sinal para parar
mas não estou afim
a muito tempo não estou afim
de nada
 
Para todo mundo tudo é tão simples
Parece que só eu não pego atalhos
Eu não sei pegar
Sou péssimo em ler os  mapas da vida
No entanto sigo, prossigo,
Sozinho ao lado de tantos
Tantos que não me compreendem
Tantos que julgam
Tantos
Com ou sem eles lá vou eu
Caminhando
 
Dizem que quem não sabe para aonde está indo
Não chega a lugar nenhum
Mas depois de tantas coisas tiradas
De tantas perdas
Onde tudo vai dar
Não é mais relevante
Já vivi o sonho de tanta gente
Esqueci até que tinha os meus próprios
Ninguém sonhou para mim
Ninguém
 
Ninguém liga se o peito dói
Se as lágrimas descem
Nem ando chorando mais
Minhas lágrimas secaram todas
Acho que minha alma também secou
Só a poesia ainda insiste
Quando eu me afundei, ninguém ligou
Tudo bem, sem rancores
Nada de pesos
Meu coração segue leve.
 
Na minha frente o caminho
Cheio de pedras
Já não ligo, sempre foi assim
No caminho de quem ama é sempre assim
Nunca é fácil
Sempre é solitário
Sempre é incompreendido e incompreensível
Mais uma curva
Depois dela um morro
Estou cansado mas vou subir
Não sou de voltar atrás.
 
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Primavera de 2009

Vila Velha - ES