Um cigarro ao relento

o soprar do vento

o seu nome...

Justamente hoje, solitário,

tais momentos...

pra nunca ousar esquecer...

 

Sozinho na praia ainda escura,

vejo sombras

e converso com espiritos

que me parecem amigos...

pois há muito o que dizer

e não mais para quem dizer...

 

Enfim um violão

a compor uma canção

que não celebra mais o passado

mas constrói o futuro,

a carta onde sou o remetente

e não há destinatário...

 

Canto, supero tudo,

sinto-me bem....

no meu peito queima a esperança

e de olhos bem abertos

vasculho a areia agora clara

a procura de tesouros...

 

... em vão...

 

Porém logo depois da chuva

que aquele vento trouxe,

o mesmo que soprou seu nome...

Surge o sol e o arco-íris;

os pássaros dançam-me

outra palavra no céu...

 

Leio, para aos poucos,

recomeçar a cantar,

reaprender a amar...

 

Idéias antigas e recorrentes, algo repaginadas... de que há beleza no que não se ousa esquecer... na tristeza... e de que há a tristeza, vil, na carne... como há, sobretudo, o alívio, ao cruzarmos este (belo) caminho que nos afasta, por vezes bem vagarosamente, e talvez jamais de forma definitiva, dela... da tristeza... da carne... ou da beleza... do que somos...

ao relento / de saudade e ansiedade construtiva

Marcio Branco
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