Só

 
                                                           Só
 
Um pequeno quarto
Uma cadeira, uma cama
e o retrato de um verdadeiro fato...
 
Noventa anos
Quando novo fiz tantos planos
Sonhei em me formar e até casar
Arrumei emprego e um bom lugar para morar...
 
Quando novo muito novo
Não entendia o que dizia
Deixei a vida passar
O tempo correr e não vi a idade chegar...
 
Uma vida vazia
Não percebia o que ocorria
Minha juventude aos poucos sumia...
 
Ah, tempo sujeito nojento
Que nós torna dependentes do sofrimento
Causa-nos o chamado envelhecimento...
 
Vejo em volta de mim
Ninguém por vir
Tudo parece dar um nó
Hoje me encontro largado, abandonado.
E simples só...
 
Sem amigo
Sem cupido
Querendo ver algo diferente
Sentir-me um pouco gente...
 
Como dói
Minha alma corroí
uma dor escondida
sem palavras sem despedida...
 
Ninguém por vir
Ninguém por eu assistir
Aguardando só o fim...
 
É o fim da história
Que guarda na memória cenário de tanta glória
Resumido hoje em pó
E no meu quarto simplesmente só...