O jovem e o Cometa

Era mais um dia na vida do jovem Ricardo. Tudo seguia a rotina: acordara cedo, arrumara a casa, lavara a louça. Tudo ia ser comum naquele dia, exceto aquela inquietante sensação de que algo estava se aproximando.
Ao ligar o rádio para mergulhar nas músicas que o prendiam em um extase, quase um transe, ele ouve que às 09:56 da manhã daquela segunda-feira chuvosa, um cometa passaria pela órbita da Terra.
Um súbito interesse avassala o jovem, e então ele passa os olhos pela cozinha em busca do relógio que marcara o tempo. Aquele mesmo relógio que dias antes o torturou até a hora do tão esperado não que ele ouviu de sua estonteante admiração.
Eram 09:50.
Ricardo se apronta, dar por encerrado seus afazeres.
Vai para seu quintal, onde começa a ter outra contagem regressiva.
Neste instante começa uma experiência única de uma pessoa. Uma luz intensa começa a surgir e uma coisa passa rápido pelos olhos de Ricardo. O rastro fica, marca e atormenta a mente do jovem.
O clarão o leva até a terrível quarta-feira, que para ele foi realmente de cinzas, onde, depois de muito tempo falou com sua musa inspiradora. O ar se tornou mais pesado, sua respiração mais ofegante. A terra tremia por seu nervosismo, inclusive as pessoas sentiam a tensão no ar. Menos ela. Ela permanecia parada. Imóvel. Com aquele olhar frio e quase fúnebre. Ricardo então começa seu monólogo, tão aguardado da parte dele e tão repudiado da parte dela.
As palavras saem medrosas, quase que fugindo delas mesmas. Ao certo não se sabe o que disse, mas em resumo foi o que todos já sabiam. O olhar fúnebre dela, a linda e estonteante Valéria, se torna uma espécie de carrasco agora. Passa pelos olhos de Ricardo, tentando encontrar algo, e encontra. E ela diz: Nós podemos ser amigos. Quatro palavras ela disse. E essas quatro palavras são para a vida dele como a cauda do cometa que passa nesta tarde.
Ao se dissipar o clarão, Ricardo tem em seus olhos lágrimas e nos lábios um sorriso.
Entra, termina seus afazeres e então, finalmente decide viver novamente ...
... mesmo sabendo que seu cometa tão inspirador passou e não voltará mais.

Conto poético que trata do encontro do autor com sua musa inspiradora originária.

Em pensamentos apaixonados pelo passado.

Leandro Marlon
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