MEUS AMORES DA SALA 503

Por: William Vicente Borges

Em Magé, no rio de Janeiro,
cursei o antigo primário,
e também fiz quinta a série ginasial.
E calhou de eu cair numa sala
muito especial.

Era a sala “503”, nunca vou esquecer
do dia em que entrei naquela sala de aula.
Disseram que nela só estudava “bam, bam, bam.”
Os melhores das quartas séries da escola
foram todos reunidos ali.

Porém eu e pelo menos mais dois, que me lembre,
não faziam parte dos “bam, bam, bam.”
Eu sempre apaixonado, e os outros dois, endiabrados.
Mas o interessante que eu era sempre coadjuvante,
sem querer, das estripulias destes dois.

Um dia a supervisora me chamou, vejam só,
pra me dizer que, se eu continuasse bagunceiro,
ia me colocar na “sala dos excepcionais”,
era como eles chamavam a
sala dos portadores de deficiência da época.
E eu todo bobo, achei que havia uma sala
para pessoas pra lá de especiais. Bobinho eu!
Depois que entendi o que ela queria dizer.

Essa supervisora, coitada, na época cometeu
tantos erros de uma vez ao dizer isso, que
chega a doer. Primeiro ofendeu os meninos
daquela sala, pois mais puros e especiais não haviam,
ofendeu a mim, pois quis me depreciar, enfim
foram tantos os equívocos, que nem sei.

Mas a sala 503 teve que me agüentar até o fim do ano.
Eu apaixonado, pela Claudinha a filha do advogado,
pela tia Odiléia a professora de Português e pela
tia Anete, que foi minha professora no primeiro ano
primário, ela que fora o primeiro amor da minha vida,
a reencontrei na sala 503, e como fora minha primeira
grande paixão aos sete anos de idade, mesmo
apaixonado por outras duas, acabei por não dizer nada
ela dos outros amores da sala 503, afinal magoá-la pra quê?

Foi engraçado. Depois já de uns dois meses de aula,
teríamos a primeira aula de “Educação Artística”,
e de repente, quem entra na sala pra dar aula?
A tia Anete, quase caí de costas, meu grande amor
havia voltado pra mim. Ela bateu
os olhos na minha pessoinha, e foi logo
falando: ___ Gente eu sou Anete, sua
professora da matéria, e eu sou muito ríspida,
perguntem ao William e ele vai dizer pois já foi meu aluno.

Olha quando ela falou meu nome, meu coração disparou.
ELA LEMBRA DE MIM. AINDA ME AMA TAMBÉM!!
Eu fiquei tão intrigado com o que ela disse? Ríspida?
Nossa, pra mim nunca tinha tido uma professora mais doce.
Na primeira série em 1974, era época da copa do mundo, e ela
levava, assim como alguns professores, a televisão pra sala,
e ela me pegava no colo, eu assistia os jogos do Braisl no colinho dela.
Lembrando que se eu sou pequeno agora, imagina aos
sete anos de idade. Mas eu amava o colinho dela. Ela
me deixou tão mal acostumado que gosto de colinho até hoje.

Bom, mas, Tia Anete na sala 503. Ela continuava doce
comigo como nos dias de 1974. Eu não poderia
ser um menino mais feliz. Tia Anete, Claudinha,
a filha do advogado, ela falava disso o tempo todo,
e a tia Odiléia. Isso até me fazia esquecer um pouco
os dois endiabrados que só me metiam em encrenca.

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Lembranças de uma infância feliz.

Outono de 2007 - Vila Velha - ES