Recolhe-te ao teu silêncio, Profeta das Almas! que o privilégio do teu intenso sortilégio revelador a ninguém acalma. E se revela dor, não espere palmas ou aclamações: a indiferença das multidões é o teu quinhão. Leva a certeza da tua exatidão, por gentileza, silente em teu coração, que os mundos são indiferentes, e sempre serão; e o povo seguirá adiante reafirmando a predileção pela ignorância confortante de viver em vão.
Descansa, Homem da Pena! amansa tua voz, tão serena que envenena e avança sem pudor; abranda o furor da tua rima; apequena teu verso-obra-prima, submerso na impopularidade da própria verdade. Não fala do amor que te entala a garganta; só canta a canção que embala a multidão, pra que o teu cantar garanta a diversão de quem não quer acordar.
Abandona o posto, Emissário do Amor! da tua dor se rirá com gosto o destinatário dessa emoção; a dona do teu coração fará pouco da tua missão, qual perdulário administrador, louco, rasgando o salário que foi seu sem merecimento. Joga as cinzas do teu poema no vento, na brisa, na amplidão, e finaliza tua participação sem mais dilema ou discussão, sem sofrimento, sem problema.
Poetiza pra dentro, Doido Varrido! que ninguém saiba do verso doído, sangrento, que contou com arte a tua lida. Torna esquecido teu lamento ensurdecedor e a tua vida, e parte, moribundo, pra outra parte, pra qualquer ponto; que o mundo não está pronto pra te ouvir falar de amor.
Trata de ir, por favor...
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