De que incontida idéia absurda brota essa tua certeza inabalável da existência? Por que rota tua vida errou o alvo da beleza do questionamento, e se perdeu na auto-suficiência do indubitável? Em que elemento se apóia tua garantia, tua paranóia de sapiência, se tudo é vento de poesia, se o mundo é inenarrável, e cada momento é a evanescência sombria do inescrutável?

Vê que não há bases para tuas frases contundentes, prepotentes, teus achismos, crentes que existes em ti mesmo. Tal fanatismo persiste um tempo, e erra a esmo, no eco surdo do natural; e se permite o vôo final pra terra do absurdo incomprovável. Logo as palavras se tornam conscientes da própria entropia, porque toda poesia, alegre ou triste, tem a louvável sabedoria de saber que não existe.

Põe tua mão inexistente na consciência universal e reconhece simplesmente que ninguém garante que realmente haja o que chamam de real. Mas segue adiante, ignorante igual aos que amam sua própria linda mentira; e se ainda tens coragem, bate no peito selvagem e atira no ar rarefeito e impuro a mesma mensagem de inconsciência:
-Estou seguro de minha existência!