Na Calada da Noite

No antigo porto de Berenice
Especiarias e vasos de cerâmica eram chegados,
Assim como os marinheiros com a sua fanfarronice
E infelizes casais de namorados.

Fugindo do rigor de seus pais na Grécia e na Fenícia,
Encontravam a cidade da língua de terra salina;
Ali vinham ansiosos pelas carícias
Que antes reprimiam devido às imposições brutescas.

Na calada da noite, pisavam de mansinho
As tábuas do concorrido cais de difícil acesso.
Naturalmente, vinham em navios de baixo calado
E as roupas do corpo eram suas únicas peças.

Sabiam que não havia regresso,
Que aquela vila na Cirenaica era o fim do caminho.
Vítimas de um destino decidido às pressas,
Renasciam longe de casa, escondendo seu passado.

O mundo a girar
De Benghazi renomeou Berenice;
Mas ainda lhe banha o mesmo mar,
Como se ainda os visse.

Aqueles jovens corajosos, de compleição delicada,
Demasiado branda em resposta a um mundo triste,
Eles não vivem mais, nem o velho cais ainda existe,
Dado que uma reforma lhe foi efetuada.

Mais fundo está o porto africano
Que com o passar dos dias
Só teve como rio os anos
Feitos do lacrimejar que dos olhos escorria.

Agora, os descendentes dos foragidos,
Envergonhados, andam de cabeça coberta para não ver as estrelas,
Para esquecer os tempos idos
Em que a rebeldia podia vê-las.