A caça às cerejas!


A caça às cerejas!
Era o terceiro domingo de namoro, num tempo em que também era permitido às quintas. Na década de sessenta era assim, namoros recatados e vigiados pelas mães, não fosse o Diabo tecê-las As saídas eram devidamente autorizadas, com prévia requisição e com horas marcada de regresso! Mesmo assim havia barrigas das…pernasque inchavam, milagrosamente…durante meses!
Idas ao cinema eram... só para filmes decentes.
Bailes? Nada daqueles beatlianos , que começavam a aparecer e que eram muito mexidos para o conservadorismo da época!

O namorado desta história era de tendência modernista e atleta, saltador de barreiras! Naquele terceiro domingo de namoro, atendendo que era bom rapaz e filho de boa família, já tinha permissão de ultrapassar o limiar da porta e entrar numa pequen sala, com clássica mobília de cerejeira, florida aqui e ali com jarrões de rosas e gladíolos Enquadradas no cenário, duas cadeiras, lado a lado, desviadas da mesa de jantar e que serviam de suporte para o par enamorado se alapar iniciar mútuas e esotéricas actividades sedutoras. Talvez, porque a mobília fosse de cerejeira, o rapaz via o que parecia duas cerejas, entalhadas naquele protubernte tronco e foi tentado a um raid de caça aos caroços. Não resistiu e.... zás, investiu!
A rapariga, rez ainda de primeira lide, não contava com tal apalpanço e desviou-se.
Foi então que a pega teve de ser de cernelha! Porém, pegada e pegador, desequilibrados, estatelaram-se na alcatifa!
A mamã, que estava espreitandoa lide, rompeu pela sala e:
-“ Que é que aconteceu?”Perguntou desolada, olhando o rapaz saindo de cima de sua filha! Além do mais, viu, estarrecida, uma cadeira, com uma perna partida!
-“E agora? Quem é que vai pagar o arranjo da cadeira?”
O rapaz, empertigado no seu elegante fato, arranjando o nó da gravata, explicou que apenas tinha feito um gesto para fazer umas doces cócegas à filha e que...prontos! Aconteceu.
Acrescentou que se casasse com a filha, a sogra podia descontar a cadeira no dote!

Naquele domingo o namoro ficou por ali. A namorada, um pouco descomposta e mal disposta, pediu para se retirar.

No Domingo seguinte, o castigo foi que o namoro fosse no átrio de entrada, com vistas públicas para a rua. O par namorava, o povo passava e olhava! As cerejas lá estavam. Intactas!
Naquele Domingo de Maio, a tarde estava fria, ele não se atreveu a tirar as mãos dos bolsos. Para ele confortável, para ela a segurança das cerejas, no peito, bem blindadas, a coberto do assalto aos caroços!

Infelizmente, nesse Domingo, de namoro a descoberto, o rapaz apanhou uma pneumonia. Teve que ficar internado umas semanas. A mãe da rapariga, cheia de remorsos, desistiu, até hoje, de pedir indemnização da cadeira, mas também ninguém mais mexeu nas cerejas da sua menina, que ficou solteira, com as cerejas a apodrecer!

Durante uns tempos, a mamã da menina ainda mandou umas embaixadas de fruta à mãe do rapaz, uns cestos de pêssegos, de limões, de maçãs, de laranjas, etc, mas o moço, além de cerejas gostava de pêssegas para as tactear, com a mão! Casou com uma dona dum pomar. Nunca lhe faltou fruta, e até a come na cama! Pêssegas, de preferência!
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Áutor: Silvino Tavira Machado Figueiredo
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Silvino Taveira Machado Figueiredo
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