FUMAR MATA
Dia de inverno. Chuva, muita!
Papéis e folhas, varridas pelo vento, forte.
Rostos, entristecidos, passando, fugidios entre cortinas de chuva!
Sob uma pala, da fachada dum Banco, dois homens, de meia-idade, crachá nas lapelas dos fatos, de estilo, fumavam, prendendo-se ao vício e libertando espírulas do fumo tabágico, que dificilmente espírulavam no húmido e cerrado ar! Pareciam, na su...a postura, apóstolos do vício, na via pública!
Ouvi:-“Quantos já fumaste, hoje?
-“Com este é o quarto. Dois, fumei-os no quarto de banho, com a técnica de cobrir o cigarro com papel molhado”
-“Ah” E resulta?
-“Sim. Resulta. Deixo, sempre, um pouco de perfume, para disfarçar!
Chamava-se Artur. Trabalhava num Banco, de renome internacional. Ficava sempre até tarde e não exigia remuneração extra! Estava sempre solícito aos seus superiores, que muito o apreciavam, pela sua disponibilidade! Justo realçar que, de vez em quando, lá era promovido, mais um nível!
-“Estou a progredir, bem”, dizia Artur, para os seus botões.
Aos fins-de-semana, ia correr por entre eucaliptais. Respirar ar puro. Queria estar sempre em forma às segundas-feiras.
-“Bom dia, chefe”
-“Bom dia. Ainda bem. Hoje, tenho aqui um assunto difícil, para resolver, e lembrei-me você é pessoa mais indicada para encontrar a solução.
-“Se eu puder, chefe.
-“Tome lá este dossier. Estude-o e depois diga-me alguma coisa.
Era mais uma oportunidade, para o Artur, brilhar, se conseguisse solucionar o caso.
Como já era senhor duma certa autonomia, a tal que já lhe dava direito a ir à rua fumar mais cigarros, pediu aos colegas, para não ser incomodado. Entrou no seu gabinete e fechou a porta.
Abriu o dossier e logo passados alguns minutos já estava a abrir a janela para o exterior, para a saída da fumaça. A cada alternativa para resolver a questão seguia-se um cigarro! Um cigarro atrás doutro.
As horas corriam e ele estudava, estudava a melhor solução. A meio da tarde, com um sorriso de satisfação, bateu à porta do gabinete do Senhor Diretor, que não estava! Tinha ido almoçar, com sua Secretária, para conviverem com clientes. Negócios, enfim!
Finalmente, o Senhor Diretor agradeceu-lhe. Mais um esforço e, quem sabe? mais uma promoção e a chefia duma secção! Artur sentia que progredia!
Mas, um dia, num fim-de-semana, Artur desmaiou, no meio dum eucaliptal! Levaram-no ao hospital, onde lhe foi detetado cancro nos pulmões! A progressão na carreira do Artur tinha sido interrompida.
A do cancro não.
A chuva caía, naquele dia! Quem sabe se a chuva caía, fazendo esforços, para ganhar o descanso duns dias de sol!
Papéis, saltitavam com o vento, no chão. Um deles veio ter à minha mão, dizia:
”Fumar mata”
Artur sabia ler, mas não teve tempo de interromper!
Larguei o papel, para que a mensagem progredisse e mais gente visse!
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Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
Gondomar
18/01/2013

Silvino Taveira Machado Figueiredo
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