Um beijo na alma (Comentário na música de Chico Buarque de Holanda)

Um beijo na alma (Comentário na música de Chico Buarque de Holanda)


“O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh’alma se sentir beijada...”
 
(O meu amor – Chico Buarque)
 
Bom: essa musica (toda ela) obra prima de poesia, celebrando não  qualquer amor, mas aquele amor empático, que se doa ao máximo para oferecer à outra metade todo o prazer possível e que se locupleta, não ao receber, antes ao proporcionar....
 
Toda ela... mas eu vou me ater a essa primeira estrofe: 
 
Vou me ater a esse beijo ( E diga-se de passagem, que beijo)!
É...
por que beijos, existem vários. 
Existem beijos e beijos.
 
Mas esse beijo que beija a alma; é um beijo que só pertence aos amantes completos.  Cúmplices, parceiros... que se amam em corpo e alma.
 
Primeiramente, para se beijar uma alma é preciso, num raro momento de sublimação,  tornar-se alma!
 
Exige a convergência de sentimentos, sensações, cheiros, toques, desejos, pensamentos... é um fenômeno “químico-fisio-filosófico”.
 
Acontece nas raras ocasiões em  que o amor, a paixão e o tesão andam juntos. 
Acontece quando o cheiro da outra pessoa fica impregnado na nossa pele. 
È um instante fugaz como um relâmpago. Após o que, fica uma alma, irremediavelmente gravada na outra...
 
Acontece no momento mais sublime, do amor mais sublime.  Quando quebradas todas as barreiras,  você entra tanto, e tão por completo, dentro da pessoa amada que toca a alma dela.
 
E nesse lapso de tempo, quando você toca, beija e faz amor (a sua alma) com a alma dela, transcendendo para um lugar que não sei bem aonde; não tem nome (perto de Shangrilá, pouco depois do Nirvana)... é como morrer por uma fração de segundos .(acho que eu já escrevi sobre isso aqui), é como morrer... 
 
É uma descarga simultânea de toda a serotonina, dopamina,  adrenalina, endofina e todos os hormônios e neurotransmissores armazenados no nosso organismo. 
Um  êxtase parecido com aquelas antigas máquinas de fliperama, quando se diziam que entravam em “tilt”.
É um profundo, repentino, delicioso e fugaz estado de choque...
Domina-nos o “não querer voltar mais”, mas é um lugar onde infelizmente, não se pode permanecer...
 
Nesse instante mágico onde você  busca sofregamente, não receber, mas dar o mais perfeito e completo prazer, estando a sua  alma perfeitamente conectada à dela, esse orgasmo metafísico se transmite de alma em alma,  dela à sua, como a corrente de uma eletrólise visceral, onde  corpos e almas,  diluídos num coquetel de suor,  lágrimas e todas as secreções próprias ao amor, se transfundem literalmente em um só.
 
Para esse momento, vale a pena viver e amar...

Em casa.
Ouvindo música e pensando no que eu tenho vontade de dizer a ela...
BRUNO
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