PERFIL DE DESENGANOS

Para  aquela  inesquecivel,

última carícia que se foi, 

tenho   mãos   parcas ,

tenho   nadas  com  que  tocar-te,

tenho  somente  um fraco pulsar,

para  suster  o  peso

da  tua  essência  consumida.

Ficando   nessa  tremura  antiga,

que   remonta  a  feridas

e   ferinas   negações.

 

Se pudesses  olhar-me  agora,

pouco enxergarias   como  

me  vias  ou  que, de tal modo restou,

daquele  doce crepitar  de  altas

aquiescências  incandescidas.

Nem  poderias  sentir  naquele  exato

antes:  o morno de  uma  ventania  finda,  

não percebida,  que alteava   nossas arestas

e  costumava sublevar-te

a  uma   qualquer  vontade

de  não  te  saber,

o  que  serias.

 

Tão  pouco  intactos  deixamo-nos   ficar, 

naquilo   do  que  perdemos

e  até  do  pouco que  retemos,

que  corta  e  magoa,   faz   sofrer,

contorce-se  ante  o  insustentável.

Ficando  eu   então   assim:

pondo reparos  nos  vãos  da  mente,

longe   do   retempero    do   coração,

mas  sem  o   ardil   do   nosso

perfil   de  desenganos.

 

Desejo  agora  o  impossível  

de  apenas,  retornar  ao  início

de    quando  era  menino.

Sem   tempo  pra ser triste

e   muito menos   sem ter 

que  carregar

esse   ar   de  punitiva

interrogação.

Que  hoje   ostento,  sem 

nenhum    breve  rito,

de  todos   os  disfarces !

versejando ( ao estilo de Pessoa )
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