Ser poeta é . . .
antes de tudo,
o princípio de se ser
livre por dentro, mas
também de nunca desdenhar
da solidão e de uns restos
que de ir embora
se esqueceu, gravados
na mente.
Além dessas cinzas soltas,
em suspensão
por todos os lados.
Ser poeta é . . .
baixar ao sangue intransitável
sorrindo(quando for a hora ),
mas querendo chorar
e não se dando conta do ridículo,
do perecível, do instante débil.
É ir-se chegando a refúgios
inexistentes,
ao sigilo de uma perda,
na premissa do surgimento
de uma nova salvação.
Na total extensão
do sofrimento.
Ser poeta é . . .
aguardar a imponência
do que é essencial,
não a breve eclosão
do brilho sem
contrapartida.
Então do absoluto
clarão que o espírito
cobra, freme e espera.
Que ao mesmo
tempo, espanta
as trevas da dor
e da despedida . . .
tocando-as
do irrevelado.
Ser poeta é . . .
contudo,
o exercício do amor
que morre à toa,
nesse soluço da gana
pelo perfeito e até
pelo imperfeito.
Sem nada pra reter
a debandada de lágrimas,
risos e ritos,
que ecoam pelo ar
e ao tudo
que se perdeu derramado.
É persistir
na inacreditável loucura do
eu sozinho, correndo atrás
das pegadas de algum
perdido ser,
e ir também se perdendo,
sem poder parar . . .
Ó destino, que em chamas,
cada vez mais agitadas,
é o sumidouro existencial
do poeta
e de sua alma titubeante,
quando enfim ele
deixará de ser.
Restando o obsessivo
solfejar de suas poesias, e
ainda aquela ferida . . .
como um presente !
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