Maria
sobe a calçada
a caminho de Seixagude
no fim da volta
que lhe dá o sustento
Vai cansada e carregada
À cabeça
leva a canastra
e no peito
um coração doente
que arfa e cansa
No ventre
um fruto de sete meses
em corpo de gente
feito criança
E para um coração
que arfa e cansa,
menos sofra e adoeça,
Maria
pousa a canastra e descansa
na freguesa que a peixe compra
e enquanto a sardinha conta,
dá dois dedos de conversa,
aliviando o seu coração que arfa
no propósito e na esperança
de que ao seu pequeno fruto
nada de mal aconteça
Maria,
Rosa Pisca
para as pessoas
que lhe querem bem
e lhe compram o peixe
sabe que findo o Setembro,
- que vai quente
chegará o frio de novembro
e com ele
a dor do seu amor apareça
E eu,
que sou o seu menino,
para que Rosa não esmoreça
e saiba que o seu menino
… é um menino
dou-lhe um pontapé feito Puskas,
esse magnífico goleador
que Rosa não conhece
e nunca ouviu falar
Rosa,
desconfia que tão forte pontapé
só pode ser de menino
… e sorri
apesar do seu coração
que arfa
e do calor que a tolhe,
aflige e abafa,
e da brisa que não corre
e da asma que não se acalma,
Rosa,
pisca os seus lindos olhos
ao golo que meti
e pensa;
Sim…
só pode ser menino,
este meu menino
Rosa
abranda a contagem do peixe
olha para a sua freguesa
… e sorri
um sorriso
terno, doce, enigmático
Há-de ser poeta,
este meu menino
diz
… e prossegue a contagem
Quanto lhe devo, tiarosa?
pergunta
a jovem freguesa
Nada. Este é de graça.
Pensa o menino goleador
Um dia cantarás este poema
e eu serei o seu autor
Um escudo,
minha querida,
porque este meu menino
é um mãos largas,
e eu tenho que o alimentar
e proteger
e se a senhora do Ó
me ajudar
chegado o frio de novembro
o meu rapaz há-de aparecer
disse
Rosa Pisca,
MARIA,
minha Mãe
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