Um dia de botequim

É dura a vida de um "botequeiro"...

Tem que aturar beberão;

(Tem que ter "saco de leão",

Tem que ter paciência de Jó)...

Tem que estar de bem com a vida

E estar com a mente prevenida,

Para o que vier... de pior!

 

Tem que "manjar"  de filosofia,

Tem que entender de futebol;

(Tem que encarar chuva e sol,

 Tem que ver tudo sem estrilar)...

Tem que ter, sempre, munição,

Nunca, (jamais), dizer não

E sua mercadoria... valorizar!

 

Tem que ser muito inteligente,

Tem que "empurrar com a barriga";

(Ver, e fingir que nem liga,

É ter ouvidos de mercador)...

Não, pode ser muito sisudo,

Tem que, ás vezes, rir de tudo,

Tem que ser muito observador!

 

Tem que ser mestre de confissório,

Tem que ouvir, sem opinar;

(Tem que anuir, que participar,

Aturando as conversas fiadas)...

Tem que ser um disciplinador,

Um conselheiro, um orientador

E tem que saber contar piadas!

 

Não pode  "amolecer"  com o fiado,

Tem que lavar copos o dia inteiro;

(Tem que superar, sempre maneiro,

Os erros cometidos no dia anterior)...

É, pela manhã, "levantar" portas,

É, pela tarde, "baixar" portas

E ainda atender o fornecedor!

 

Ser "botequeiro" é ser, enfim,

Um superior, um predestinado;

(É ter o senso sempre apurado,

Para aquilo que "der e vier")...

É ter que aturar fanfarronices,

É ter que aturar "disse-me-disse",

12 horas (ou mais)... em pé!