UMA ROSA SOB A NEVE

UMA ROSA SOB A NEVE


(Descrição de uma história verídica: eu tinha 4 anos e foi a primeira vez que vi cair neve, por estranho que pareça, no Algarve (nunca mais voltou a acontecer por lá). Deram-me ontem o tema UMA ROSA SOB A NEVE para fazer um poema e lembrei-me deste episódio)

O dia amanhecera tão cinzento...
Eu acordara triste, muito cedo
Na esp'rança de encontrar lindo brinquedo
Que a mãe me dera em gesto ternurento

Busquei por toda a casa sem o ver...
Discreto, que ninguém se apercebesse!
Trabalho feito em vão, brinquedo esse
Recordo, não voltou ao meu poder

Teria ele caído então na rua?...
...No campo onde brinquei a tarde toda?
A minha cabecita andava à roda
Nas faltas nunca ela apazigua!



Morávamos no campo... a porta abri
P'ra ver se o meu pião lá fora achava
Mas ao olhar o céu já me quedava
Prante essa beleza que então vi:



Como nuvens branquinhas que caindo
Em direcção à terra e tão de leve
Em camadas de flocos vinha a neve
Que tanto embeveceu... tudo tão lindo!...



As árvores cobertas bem na copa
Brilhavam como o branco casario
O chão tapado em neve, luzidio...
E meu olhar-menino o que é que topa?



No campo onde brincara, se estivesse,
Estaria soterrado o meu pião
Ir procurá-lo lá seria em vão
A menos que um milagre acontecesse



E nisso meditando fiquei triste
A esperança esvaneceu-se...estava morta
Pensei ainda assim transpor a porta
Num pouco de vontade que persiste...



Desistindo porém, não se conteve
O choro...e me inundou, pobre de mim!
Em frente, do minúsculo jardim,
Sorria-me uma rosa sob a neve...

Joaquim Sustelo

Joaquim M. A. Sustelo
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