O que a faz crer piamente que eu não a ame?
Serão as minhas irreflexíveis demonstrações?
Será o meu desdém exagerado para com qualquer um outro?
Será o som da minha voz, nesse tom deslocado e rigidamente imperfeito que a faz aspirar esse veneno de que o tempo curará?
O que a faz severamente duvidar do meu olhar?
Será a extensão desse brilho estrangulado, incalculável e lamentavelmente distraído?
O que a faz censurar destemidamente o meu coração fatigado e mórbido na sua dor - de resistir ao fracasso - de nem ao menos contentar-se com os sonhos contigo -...(?).
Será a dimensão indecifrável dessa ampla e impensada resignação?
E é como se o tempo não prosseguisse, ou, até mesmo, seguisse calorosamente às demandas da pressa;
E as sensações são mútuas;
E o desencadear das oportunidades mostram-se em derrocada;
E toda a modernidade das paixões me enoja, me arrepia;
Me faz parar de funcionar.
E aos berros pelos becos internos, cavernosos e estreitos das minhas veias, eu renasço num assombro, num comedido pulsar, e refaço a interrogação mais insignificante de todas já inventadas – Serão as minhas irreflexíveis demonstrações?.

No trem, 28/07/05