Choro em verso avesso,
estremeço em pensar
no galope da distância,
na circunstância do adeus.
A Deus peço pelo justo,
pela felicidade de teus passos
e quem dera o entrelaço,
um abraço após o susto,
um alento ante a saudade,
e a gravidade do espaço
flutuando todo o tormento.

Choro em verso avesso,
anoiteço em pleno dia
e amanheço no escuro,
nem sei se te procuro
nos tais retratos pela casa.
Essa brasa dolorida
que ressoa, mortifica a vida,
é castigo certo de ausência mantida.
Não sei, já não sei quanto dura,
conjura o tempo em minutos seculares,
enquanto cambaleio pelas ruas, pelos bares.

Choro em verso avesso,
entristeço, filosofo na sarjeta,
de veneta, saco sua foto guardada,
na pequenice do papel que agora me é gorjeta.
Tenho as lágrimas misturadas às da chuva
que me enluva em pranto torrencial.
Desse manancial que é aguaçeiro,
rolando das calhas às malhas do chão,
desce também meu coração ao exílio.
Canto o verso avesso que enfeia a canção,
endereçando ao lamento, as chances em vão.

São Paulo