Confissões de MENS

Confissões de MENS

 
Caudaloso, indolente, imponente rio-rubi
Sem consentimento, sequer prévio aviso
Das entranhas ao externo banhou a mim.
Vi a morte. Entre pranto e gritos socorro pedi
E em resposta ao desespero “ensinaram-me”
Que mês a mês maculada seria assim.
 
Longo foi o tempo do desprezo e da vergonha que senti,
Desses dias infinitos que “poluíam” meu universo infeliz
Da infalível cor magenta a acompanhar meu existir.
E o que dizer da inconfessável libido companheira em sincronia?
E da conseqüente “culpa” no trajeto dessa via?
Nada além do compatível som de magenta a nojenta eu sabia.
 
Em processo dialético, no tempo do ABAL fui tocada pela sabedoria  
E soube eu do rio-lua, Mens, e toda sua magia,
Que ciclo lua e ciclo mens também são sincronia
E que do ethos, o prazer é a ética de toda filosofia.
Incautos “educadores” da sociedade patriarcal
Descuidaram o pensar de que a busca pelo conhecimento até a verdade me levaria, desvelando todo mal.
 
Quanta ironia em igualar o imundo ao maior indicativo de fertilidade, 
Inquisição à extrema sensibilidade psíquica do poder oracular,
Negação do criar e nutrir a toda vinda e toda ida,
Desacato ao ser mulher, bruxa, deusa, lua... felizmente parida.    
Se um dia a morte me tocou, já canalizada à essência primordial, a ignorância foi banida e de outro parto eu mesma me dei a vida.
 

A palavra menstruação vem do latim mens e significa lua e mês. A sincronia entre o ciclo lunar e o menstrual reflete o vínculo entre as mulheres, a Lua e as deusas da fertilidade. O poder da mulher vem do seu sangue, e esse sangue liga a mulher ao poder da Criação, portanto é sagrado!

Goiânia, 28.06.2010 - 22h39m.

Emy Margot Tápia Alvear
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