Arranquei meu coração pelicano

Arranquei meu coração pelicano

alma sensível.
gritos terríveis.

 desespero, outros,
são outros, ninguém mais.
Minha voz, minha.
Embora canto coletivo e nobre.
Arranquei coração, rasguei tudo, dilacerei.
Transformei coração sagrado, tirei armadura,
Príncipe Valente e malha de ferro.
Mandei pro quinto dos infernos,
descomunal desespero,
em que  pratiquei.
ato de honra guerreiro e samurai.
estandarte, meio da batalha, fogo e sangue,
estava só, eu também.
corpo, sangrado pelicano,  restava.

Tiro peito maternal alimento que resta,
e, alcanço, mulher, para não morreres de sede.

pedra, serve de sepulcro,

ilusões, deserto
visões, destruição e vontade.
corpos indistintos, areia movediça,
procurando segurar ar, vida.
Tudo, mar, galho, corda,
mão, braço, força, nada, aceitação, consumação,
mergulhar, águas profundas, até não pensar,
não doer, nem acordar, simplesmente ir,
afundar, ir, afundar.
Ultrapassar espaços e átomos.
Lá, onde Deus está, não se deve falar.

Lá, onde não existo.
Atravessar parede, gritar nome, bem alto,
bem baixinho, mergulhar fundo.
não morrer, escutar,
resistir, viver, reviver, mudar.
não sou,
teu olhar.
encantos de beijo, rememoro,
cada instante.
solidão é cristã e domingueira.
no armário.
não estou, você não está.
tarde foi, fui, com ela.
dobrada da esquina, espero encontrar.
resto, é o cinza.
Quem passa, lado, agora?
Pouco importa.
Nem  dias posso olhar alto dos penhascos,
edifício alto e contemplar.
Terra, destino insólito.
poeira das horas,
escarneço de mim,
pretensões de ser mais.

 

Para Soninha de meu coração. nuvens, simplesmente nuvens. Uma homenagem para Amy Winehouse .

Bagé/RS

Claudio Antunes Boucinha
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