Da Vontade de ser um com o mundo

Da Vontade de ser um com o mundo

 
 
 
Rosas vermelhas, meu amor, rosas incrivelmente vermelhas.
trigal e vento, nada mais, Van Gogh, e desvisão,
descegueira?
ensandecido correndo por entre milharais esverdeados,
para chegar onde?
deserto no Arizona, Far-west, pistola, coração,
solitário, anjo encardido, na Pedra Pelada do Morro do Ouro.
tigre asiático procura morada, na jangal.
Rudyard Klypling, esbaforido, foge, gritando, Se... eu não morresse amanhã...
Alvares de Azevedo, em baixo de pessegueiro, bem baixinho, soluça por outra
melhor e lamenta perfume brasileiro: era tarde e inês já é morta ou envelheceu.
Um passo, dois passos, de nenê.
Vamos sair de fininho, para não dizerem que estamos todos loucos.
O último, aliás, deveria apagar luz, e gritar e gritar para ver se alguém escuta
nessa noite infernal de mosquitos e baratas selvagens.
Nem sapo sobe nas peredes e nem toma pilsen.
E a cópia é somente uma cópia, nada mais.
Cat Stevens ainda é o melhor!
Mais perto de Deus, mais longe da humanidade?
Ou a própria humanidade é Deus?
Deus está entre nós, bestas humanas?
Então, bestas humanas podem ser Deus?
Existem palavras que não precisariam ser ditas, por não dizerem nada.
Bestas, humanas, Deus, coragem para dizer e compreender.
Existem lagos azuis, em que burka, olhar, blue, pode ser mais azul?
Baraka, ainda não vi tudo.
Em cada canto do mundo, da esquina, existe clube.
O clube de não fazer nada, esperar pelo mundo, pela noite, pelo dia, por tudo.
Ontem, meu tio acompanhou mais um enterro: era o vizinho, já velho, com oitenta e quatro anos de idade,
12 filhos, 50 netos, tantos bisnetos.
Morre em paz, seguro de que não fez mal.
Aliás, nem ele sabia que já estava morto.
histórias centenárias de Gabriel Garcia Marques.
diria lágrimas seculares de desesperos seculares.
Talvez, não dissesse nada.
palco, mais adiante.
amigo morreu, alcoólatra.
Outro, de virose generalizada.
Alguns, morrem de tédio.
Outros, na falta do que fazer, morrem também.
E não há nenhuma novidade nisso tudo.
O brinco, na orelha, não disfarça o cíume plenamente capitalista.
Tua barriguinha, de fora, mostra e não mostra,
demonstra o desejo, mas é farsa, bem montada,
mas é farsa.
O traficante oferece cerveja e amizade.
Depois, cobrará tua vida e tua companhia,
até o quinto dos infernos.
Humanos, completamente humanos.
Padecemos, compartilhando, as reveses dos tempos.
 
 

Uma homenagem para Cat Stevens. Para Soninha do meu coração.

Bagé

Claudio Antunes Boucinha
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