De urtigas e carrapichos

De urtigas e carrapichos

 
Caminhando entre as flores das urtigas, imagino labirintos desenhados na paisagem,
Vou, sem pressa, encantado que estou pelo verde.
O gosto de funcho na boca, a aveia germinando, o doce de pera,
A janela mais alta, vou serpenteando maat.
Quem sabe, Deus, na sua infinita bondade,
sossegue um pouco de escutar
Os gritos lancinantes das mortalhas,
O vozerio do inferno de Dante.
O desespero “Homérico” do mundo
e a descrença generalizada.
Vou lá, bem fundo, onde não há mais nada e tudo se confunde.
Posso desenhar todos os infernos possíveis
para que o mundo se regenere,
à maneira de Cagliostro,
Algo parecido como as águias e seus pináculos.
Quem sabe, uma borboleta esvoaçando entre as amoreiras.
Uma flor de carrapicho se apaixonou por teus cabelos.
Rememoro sabores e sinto o cheiro da terra das estradas.
Um coruja bem campeira estacionou seu vôo das madrugadas
no moirão mas avermelhado pelo tempo.
Corro ainda, na rua lá de casa que não é mais casa e não é mais rua.
Eu não mudei, tenho tudo aqui guardado.
Não sei se focalizei algumas sinapses,
ou foi tudo uma grande armação divina.
Ainda não derramei todas as lágrimas.
O sol apascentava Akhenaton.
Nefertiti passeava entre lírios, com as filhas.
Só de retoiço, mexi contigo,
era eu que havia enxameado teus cabelos
com ,das mais simples, margaridas.
Você sorriu e o teu sorriso foi angelical e onipresente.
 
 
 

Para Soninha de meu coração.

Bagé/RS

Claudio Antunes Boucinha
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