Ensaio: Confissões De Uma Sexta à Noite

Era outono, começo de abril.

Fazia calor naquela sexta feira.

Havia um belo céu estrelado,

Uma noite calma e serena

Perfeito pra uma saideira.

Apaixonado, vou jantar com minha morena.

Era nosso aniversário,

Comemorávamos nosso primeiro mês!

Queríamos que fosse perfeito, pensamos com sensatez 

Qual seria o melhor cenário.

Ela escolheu um restaurante perto de casa,

Numa rua badalada e pequena.

Fomos com seu carro ver qual era o esquema:

Estava lotado, fervia em brasa!

Pessoas de todas as idades, principalmente a mocidade,

De todos os cantos da cidade, vinham à procura da diversão.

Sentamos numa mesa a dois,

Encostada na parede. Tinha como iluminação

Uma luz baixa e amarelada, pois

Incitava o romance, incitava a pesca do outro

Na vara curta, de curto alcance, em busca de envolvimento e emoção. 

Nos encarávamos em grande amparo;

Um ápice de sede, uma seca mal amparada

Com belas palavras, floreio, água é jorrada

Quando pego sua mão e me declaro

Num suave tom de voz, a tudo despegada:

Gosto de estar sempre ao seu lado

De dia, de noite, de madrugada

Para beijar tua mão, teus lábios

E lha chamar de minha amada;

 Gosto de te pegar desprevenida

Com palavras e flores belas

Para ver a emoção em seu rosto

Que, daqui de onde estou posto,

Tu és a mais bela;

Gosto de te pegar fortemente

Para desfrutar o toque do seu corpo no meu,

Te apalpar, lambuzar e esquentar

O suficiente para lhe dar vontade de tirar a roupa 

E nos embalsamarmos no apogeu 

Do capim selvagem sexual,

Onde sou todo seu;

Gosto de...  - Ela me interrompe de repente

Com uma carinha de apaixonada,

Cintilantes olhos de alvorada

Também revelando o que sente

Num romântico tom de voz:

Só você me deixa assim... – fica em silencio logo após

Assim como? – pergunto confuso

Com frio na barriga, fora do meu fuso;

É culpa desse seu olhar sedutor,

Afogado com muito amor em minhas pupilas;

Me deixa mole, me descarrila.

Ainda confuso, comento:

Mas que olhar sedutor ?

Não te olhei assim em nenhum momento,

Eu simplesmente te olho !

E ela completa, então:

Sim, eu sei...

É justamente essa a questão !

A pura inocência do seu olhar.

Natural, singelo, sem forçar nada

Que me enlouquece, dá vontade de te agarrar

E inteiro te lambear.

Eu, espantado no meio de todo esse erotismo,

Divertia-me ao ouvir tal sem-vergonhismo

Com um sorriso estampado na cara

Aos risos daqui e dali.

Tento fazer um comentário,

Quando você.... - Mas ela, aflita, me interrompe novamente – pera aí, pera aí ,

Ainda não acabei a história !

Oh desculpe, prossiga – respondi.

E ela volta a expressar sua oratória:

Então, aquela hora que saístes do banho,

Com a toalha ao redor da cintura, 

Desnudo, molhado, sem censura,

Meu coração disparou, foi a mil

Ao ver seu belo e definido porte 

Pela primeira vez, de frente e de perfil

No palco solitário dos meus olhos.

Sim, sim, me lembro ! – sua cena roubando, e completando

Seu olhar delirava nos meus membros.

Seu queixo foi abaixo, 

A saliva em sua boca borbulhava

Pois não acreditava no que estava vendo;

Aquele cara que tanto desejava

Estava, seminu, diante de ti, se rendendo

(…)

Assim, fácil fácil, todo desavergonhado

Admito, quis te deixar louca,

Queria ver sua reação ao me ver daquele jeito.

Quase nu, sem roupa, sem enfeito.

Mas, o mais gostoso foi quando te peguei,

Te agarrei, naquela pegada forte que você gosta

E só ouvia como resposta:

Ai ai, isso, me agarra, me pega.

Dito isso, uma breve pausa nos apega.

Trocamos densas energias com nossos olhares;

Brilhantes, secos e mais profundos que os sete mares;

Aquece nossa sintonia, nosso amor e nos aconchega.

Ela, quebra o silencio, se manifesta, expondo:

Sabe porquê, por você, eu tanto insisto ?

Não, porquê ? – respondo.

Porquê todo esse amor que você sente por mim, 

É mais forte eu, e enfim, não resisto...


Abril 2013