Dizem que estão espalhadas pelo ar canções perdidas,

fragmentos de poemas, peças da máquina da vida,

olhos tristes que liam sob abajures,

dizem que cães latem para cometas que, distraídos, caem,

que lá no espaço se encontram milhões de abraços,

ouve-se a voz do pastor a chamar as ovelhas,

escuta-se o balido de Vênus,

um olho que vê tudo nos espia,

centopeias agitam suas patas,

dizem que do fundo do poço do conhecimento

Deus grita esperando por um homem que o salve...

 

Dizem, ainda, que cantos de guerra se espalham sobre os arames

onde virgens estendem as roupas que lavaram nos riachos de luz,

que ouviram música feita por banjos de barro,

dizem, por fim, que o céu é uma escola onde os anjos aprendem

a saltar obstáculos e a voarem sobre o rés do chão,

que nós, ainda em estado de estudo de raças superiores,

somos vistos como pequenos insetos devoradores,

adoradores de imagens e crianças cruéis...

Prieto Moreno
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