Quando a noite chega, negra e bela, 

que uivos escuto a atravessarem a janela,

nada me mete medo, nem o arranhar de segredos

querendo me revelar pórticos e infernos abissais,

nada me assusta tanto como a ausência do amor

dizendo-me sutilmente que, amar, nunca mais...

 

Saio pela casa vazia de sussurros e gemidos,

na varanda espio a lua que me espia,

move seus raios pálidos e frios

que a mim envia...

 

Já nem sei mais o que fiz para merecer

a solidão como companhia, eterna meretriz;

se escolhi errados amores e se o meu querer

não bastou para convencer o amor a me invadir...

 

Como se corrige uma linha já escrita e que não se apaga,

a rota errada do barco das sensações que vagou, perdido,

o inevitável encontro entre o fogo da ausência e sua marca,

esse pedido de socorro no mar gélido, da garrafa de vidro?

Prieto Moreno
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