Não se desencoraje...
Não há ninguém lá fora com quem possa lutar;
teus amigos e inimigos, ganhadores e perdedores,
estão dentro de você...
De manhã, aos pensares em mais um instante na quente cama,
vence o que te faz perder um raio de sol enviado a ti,
vence a tua vontade e te faz espreguiçar como um urso,
que sabe que não és; aos pés da cama o par de chinelos
espera pelos teus pés que se esfregam numa coceira feliz...
De tarde, quando a brisa escorrega por debaixo da porta e te acaricia,
solta os pensamentos e faz com que voem pela orla onde barcos
flutuam como penas sobre um vulcão; a tarefa exposta fica para depois,
mais ou menos como atender o telefone e deixar queimar o arroz...
Quando chega a noite e o amor acena por detrá do vidro baço,
bebes mais um gole de vinho e chama a si poemas abandonados;
revela, então, que tua alma precisa de um casulo,
precisa voltar a ser larva e se mutar;
só não reparas nos olhos doces que te espiam por entre as flores,
te envia sinais de que fostes o escolhido para a primavera que chega
no coração que em ti repara; como uma folha de papel em branco
anuncia ao grafite que já tem as palavras certas a dizer,
que só precisa se levantar e caminhar
em direção ao teu novo amor;
então, delicadamente as flores se abrem
e pronunciam, vermelhas, o teu nome:
enfim, você venceu...
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