Escuta! Em nossa alcova da voz o romper

- é o silêncio plácido de quem vai morrer -

a desertar teus lábios num momento apenas;

Escuta! O céu lá fora as tranças desatando,

em nosso frio telhado o vento tropeçando,

trovões monstruosos devorando as avenas!

 

É bom teu seio ouvir durante a tempestade

e crer que serás sempre a minha majestade,

quando cavalga o raio na nuvem escura.

Eu vejo em teu olhar os prantos luminosos,

a tua alma arder como os sonhos voluptuosos,

quando num suspirar te falo de ventura.

 

Amo-te, donzela, na mais triste pobreza,

pois sou quem não teve da glória a certeza,

ao menos razão p`ra lutar junto aos valentes.

Meu galardão está em teus lábios ridentes

- teu caminho de luz que me faz tão contente -

onde bebo o néctar dos vales envolventes.

 

Derrama-me o fulgor que teu seio cultiva,

com carinho alente esta existência furtiva,

lira fustigada que ninguém nunca ouviu.

Por isso, eu tenho em ti, ó imortal paixão,

sepulto e aplacado meu fútil coração,

que p`ra te amar somente no mundo existiu.

 

Não durma... não deixa-me padecer no leito

longe de teus suspiros, vertendo em meu peito

um amor tão doce, que uma canção vigora.

Dê-me num beijo altivo um pouco de alegria,

e vou cantar qual bardo em meiga melodia,

até fechar meus olhos os passos da aurora.

 

 

ALEXANDRE CAMPANHOLA

 

 

Alexandre Campanhola
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