Ruge o céu todo em bravura!
- Este negro patamar
em sinistra sepultura
vai guardando a azul candura,
em o acaso arremedar.
Recolhida a luz brilhante
que lançava o imperador,
que nos conduz ao instante
de arcar, assim, petulante,
c´os trejeitos do labor!
Agora rasgam os seios
- tetos dos seres da Terra -
com seus macabros enleios
os raios em devaneios,
como os gládios em uma guerra!
Vão ferindo os ares ledos
entre as nuvens mergulhando,
dardejando os arvoredos;
uns morrendo nos penedos
ou nas vagas galopando.
São as efêmeras lampas
da fúria o pranto argentino
que refletem estas campas
do pesar as frias tampas,
que dormem à voz do sino.
Revoltos os ares dançam,
levantam cinzas poeiras!
Parece que não se cansam,
rijos sopros logo lançam
às paragens mais fagueiras.
Descem do céu as escadas,
tropeçando nos telhados.
E, acordando as meigas fadas
na tez das águas paradas,
colam seus beijos molhados.
O mar trêmulo e agitado
engole as embarcações!
Com o espírito inflamado
e o olhar de fogo apagado,
extingue as brandas canções.
Que horda obscura faz festa
nas etéreas profundezas?
Rege a terrível orquestra,
impondo com sua destra
lufadas e correntezas?
Em volta se desfigura
do dia a nívea feição,
e o verde desta natura
que segredo na tortura,
desliza morto no chão!
Oh! tenebrosa pantera,
teu marchar é tão medonho
que assola na primavera
o que doce e belo era,
mesmo insólito ou estranho!
E vens, súbita, raivosa
e acende espanto e pavor!
Mas, tens um quê de formosa
que mesmo, assim nebulosa,
instiga o vil trovador!
ALEXANDRE CAMPANHOLA
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