Depois dizem que árvores e plantas não têm sentimento...


Depois dizem que as plantas não têm sentimento
 
Na meninice morei perto de uma casa que ostentava um enorme pé de cajá, só de pensar minha boca enche d’água. O dono da casa era um homem muito cuidadoso e  se chamava “Seu” Idalino. Ele  não era de dar confiança a ninguém e  sua propriedade parecia um oásis comparado aos casebres da redondeza. Só ele possuía aquele enorme pedaço de terra  protegido por cerca de madeira.
“Seu” Idalino não dava cajá, vendia. Lembro de ter comprado alguns e sempre escolhia aqueles bem amarelos, macios e cheios de carne. De posse deles,  metia logo na boca, chupando aquele azedo gostoso,  produzindo boa quantidade de  saliva.
Depois fiquei sabendo que “Seu” Idalino morreu. O quintal ficou abandonado e ninguém mais vendeu cajá, o pé de cajá morreu junto com ele. A natureza sente quando as pessoas vão embora.
Dizem que as plantas e as árvores não têm sentimento. Não sei... Imagino que sintam alguma coisa.
Quando o homem pecou pela primeira vez, a natureza passou a produzir cardos e abrolhos. Quando algo acontece no mundo espiritual à natureza se manifesta
Lá em Triunfo têm uma mangueira que na época em que eu morava lá,  não dava mangas, aí então, liguei uma borracha e joguei muita água nela,  depois prometi  que  se ela produzisse mangas receberia  água  todos os dias. Ela produziu mangas,  mas eu não cumpri  a promessa.
Nós, os humanos  nunca deveriam fazer promessas, é muito difícil cumprir. A gente faz promessa porque acha que vai ficar num lugar a vida toda. Aquele pé de manga não conseguiu me deter. Lá não era o meu destino, foi  apenas um  rito de passagem.
Em seu rito de passagem por essas bandas, Jesus usou vários elementos da natureza para ilustrar  suas mensagens.
Um dia ele amaldiçoou uma figueira. Ainda bem que não tinha nenhum ambientalista por perto...  O ensinamento foi na prática mesmo, a árvore ficou esturricada, para admiração de todos. E ele, poderia acabar com tantas árvores quanto quisesse, pois é Soberano sobre a criação.
Faço essa pausa, para dar uma satisfação aos ambientalistas de plantão, embora, Jesus não precise de advogado.
Moral da história: “aquele que não produz fruto tem de  ser cortado,  para que o espaço passe para outro”.  Assim deveria ser também na sociedade.
Pode parecer cansativo, mas a explicação para essa passagem carecia uma boa exegese. O Texto diz que ele amaldiçoou a figueira, porque ela não tinha frutos, e nem se movimentou em produzir. Ela era desobediente. A natureza toda sabia da presença do Filho de Deus na Terra e deveria estar comemorando com aquilo que soubesse fazer de melhor.
A questão é: como produzir fora do tempo? É possível? Sim é possível. São os temporãos, frutos que nascem fora de tempo para alimentar os pássaros ou algum viajante, necessitado de recompor os sais minerais.
Jesus acabou com a figueira, deixando o  seguinte recado: “produzam a tempo e fora de tempo”.
O pé de cajá do “Seu” Idalino morreu de saudades, a figueira teve um fim trágico por sua desobediência,  minha mangueira ainda me espera produzindo frutos esporádicos.
E depois, ainda dizem  plantas e  árvores não têm sentimento.

Selma Nardacci dos Reis
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