Tendo passado o inverno

Tendo passado o inverno

 Tendo passado o inverno,
A visão ainda turva;
Já  dissipada toda  a chuva,
Mas, ainda o frio hodierno,
Emerge comigo  do inferno;
E, nem a  minh’alma  viúva,
nem a mão crispada, curva,
se abre  ao afago fraterno.
 
Dos males  padeço, destarte,
ainda que lute, padeço,
E, se ora alquebro,  entristeço
e  sucumbo, no todo ou em parte,
Nem trago o que tenho pra dar-te,
Nem dá-me o, enfim, que mereço.
 
E importa que eu pague esse preço
Enquanto eu persista em amar-te
 
Mas eu nem mais amo... no instante,
já nem é amor, só o relho,
onde fere-me,  um rio vermelho,
que brota do açoite constante,
dá causa  à dor lancinante,
que, sem lamentar, nem  conselho,
 corta-me o peito ofegante.
e faz-me outro tanto, o bastante,
mas que, não  me dobra o joelho.
 
Mas que me transforma,  hesitante,
De fato, sou outro...  e tão velho,
Que,  quando me olho no espelho,
Já não reconheço o semblante.

BRUNO
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