Tendo passado o inverno,
A visão ainda turva;
Já dissipada toda a chuva,
Mas, ainda o frio hodierno,
Emerge comigo do inferno;
E, nem a minh’alma viúva,
nem a mão crispada, curva,
se abre ao afago fraterno.
Dos males padeço, destarte,
ainda que lute, padeço,
E, se ora alquebro, entristeço
e sucumbo, no todo ou em parte,
Nem trago o que tenho pra dar-te,
Nem dá-me o, enfim, que mereço.
E importa que eu pague esse preço
Enquanto eu persista em amar-te
Mas eu nem mais amo... no instante,
já nem é amor, só o relho,
onde fere-me, um rio vermelho,
que brota do açoite constante,
dá causa à dor lancinante,
que, sem lamentar, nem conselho,
corta-me o peito ofegante.
e faz-me outro tanto, o bastante,
mas que, não me dobra o joelho.
Mas que me transforma, hesitante,
De fato, sou outro... e tão velho,
Que, quando me olho no espelho,
Já não reconheço o semblante.
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