Deus me livre tentar decifrar aquele gesto, que deteriorara toda a minha força, envolvendo-me num fracasso absoluto, num pesar irredutível. Meu desejo implorava por uma ação, e eu fui vencida pela fobia da tristeza, mas lamentavelmente atirei-me a esta ingenuamente. Enquanto o abraço se fazia presente, nossos braços atracados, apertados, na ânsia da posse eterna; da vitória almejada, mergulhei com meus lábios para os dela, e, houve um recuo ou uma tola incompreensão, minha coragem quebrou-se diante de tal cena, caiu sofregamente sob meus pés, e eu, com olhos furtivos, ambíguos, fixei-a com dúvidas e com certezas inexplicáveis, fitei-a curiosa e amedrontada, e ela, ainda que muda, me dizia coisas que a sua boca abortava, ainda que seus lábios não se unissem, nasciam futuros diversos de seus olhos, e um deles, pedia-me carinhosamente para que eu seguisse o curso do tempo, sem esquecê-la. Não pode ser. Fora. Quebrou... O gesto misterioso, que não ouso... Tentar.

29/12/05