Ela pensa que eu sou aquilo, sinto não ser nada disso e nunca ter correspondido, menos ainda agora. Ondas turbulentas povoaram este ano, eu terminei aqui? Eu não sei onde descansar e nem como, nada tem o meu formato, nada se encaixa. Eu gostaria de só falar dela, mas não funciona como eu quero, nada é como eu espero, descrevê-la era achar-me, realizar-me, era ser correspondida, coisa que nunca fui. Amei mais aos meus sentimentos do que as pessoas; me apeguei verdadeiramente e excedente mais às minhas palavras, às descrições apaixonantes de que eu era capaz, eu não sei onde depositar meu corpo, eu não tenho mãos à disposição, até as minhas me ignoram, eu não tenho abraços ao meu serviço, meu corpo é frio, neutro, eu excedo emocionalmente, indiscutivelmente, e na criancice espontânea. Eu não fiquei com ninguém aquele dia, eu não tinha interesse em nada daquilo, você sabe, eu não sou leviana e, confesso, não suporto ao que você me sujeita, e eu quero parar de uma vez. Eu odeio beber, e se bebo, é para tentar ser o que eu não sou, eu odeio recorrer a isso, admito estar mergulhada em carência e solidão, daí, essa reação, e pra não me tornar uma bêbada ridícula, eu mantenho a lucidez; clareza pra compreender o que me rodeia, e me manifesto com ares felizes, sem exaltação, declaro frouxos sorrisos, comporto-me ao máximo e só penso em fugir, em jamais ter escalado até ali, eu desejo nem existir, me sinto um erro, um defeito meio a um quadro uniforme, bonito. Eu não sou nada daquilo e nunca vou fazer parte.

26/12/05