Garota, anseios são outros.
Embora coxas roliças e peitos descobertos
Não quero corpo nu,
pelo menos, por enquanto.
Por favor, não me tenhas por nada.
É que não sou aquele que deve fazer tal serviço, trabalho, ofício
Que pretendes.
Por favor, perdoa-me naturalismo da cena.
Desculpe se invejo maldita carne de Aluízio de Azevedo
Se te vejo como prostituta na cama
Pronta a esperar o que pedes.
Laranja chupada e ...
Jogado fora.
Penso mais no depois, cena após, naquele instante
Em que, pausadas paixões, perguntamos a nós mesmos
O que estamos fazendo
Ali.
Poderá incauto perguntar: Mas que interessa isso tudo?
Afinal, vais comer ou não?
Procura-se um dicionário para fazer amor?
¿Que quieres, hombre?
¿Do que sientes hambre, de que voluntad disfrutare siente?
¿Qué se pasa?
Que imbricações entre filosofia e amor procuras?
As razões do amor são desrazões.
Melhor seria ter te comido e te fazer sofrer.
Ter feito promessas para não cumprir.
Fazer-te gemer e tremer, estremecer.
Sentir tuas unhas rasgarem minhas costas, na hora do amor, no abraço, te desvirginar.
Pedir-te um beijo e dizer que te amo, mais uma vez.
Mentir e mentir e depois, sair.
Com teu cheiro em minha boca e em minhas narinas
Os lençóis e
Lá na frente, a consciência, a inconsciência,
A fidelidade ...
Jogado fora,
Casamento e as promessas de altar,
Por uma noite apenas e nada mais,
O gosto amargo da traição
A consciência pesada, o arrependimento, a dúvida,
A certeza que foi tudo em vão
O desejo saciado e nada mais
O futuro atirado para cima
E o passado que não vai
Eu e minha solidão,
Sem ti, sem mim, sem ela, sem tudo.
O sentido de tudo se perdeu
Recolho-me, ensimesmado,
Por que fui fazer aquilo?
Quem é este outro que tira férias enquanto eu trabalho?
Nesse desencontro geral.
Eu, dividido,
Eu, psicose,
Eu, que converso comigo mesmo, e brigo
Eu, que não sou mais eu
Fico quietinho e espero o tempo
Passar...
Quem sabe ninguém me encontra e
Fico escondidinho
Assim, não preciso ter dúvida, atroz,
Não me preocupar
Simplesmente esquecer, não lembrar,
É como você não existisse nunca tivesse
Sou apenas eu a navegar
Nesse navio em alto mar
Nautonnier
Que vai para lugar nenhum e
Vem de lugar nenhum
Simplesmente a navegar
Enfrentar altas ondas, mergulhar
Morrer.
Bagé/RS, 5 de dezembro de 2005.
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