Eu sou um retrato ignóbil
Sou um equivoco de mim mesma
Uma entrada falsa
Uma saída coberta de explosivos
Sou um liquido puritano e mal descrito
Sou uma brasa rebelde e estúpida
Sou um fantasma do meu próprio eu
Sou um erro
Aclamada em desespero
Sou um nome comum
Tenho os passos
De qualquer um
Sou um grito macio
Enveredado pelas paredes desse organismo insólito
De tão louco
Sóbrio
De tão sóbrio
Louco
Sou o chumbo assassino
De lábios cadavéricos
De sonhos impressos
Imprecisos
Relevantes
Sou o lacre
A trava
A forca
Desse corpo sem reforços
De tão interiorizado
Invisível
Uma máquina de assombros
De bizarrices
De tão sepulcral
Invencível
Retorquido e assolado
Os braços
Os giros
Fúnebres e estéril
Sou a não-compostura
O cheiro lascivo do deslumbre
A imensidão ávida em desvarios
O túmulo frio
Impenetrável
O engenho monstruoso
Onde cessam
Toda a volúpia do desejo
Dos escárnios vindos do poder
De, por hora ser, outras estar.

15/11/05