FACE ATLÂNTICA
Sopra, vento do mar e beija tristemente a minha face atlântica!
Vem e coloca-me nos olhos a maresia trágica dos naufrágios,
A bruma secreta das manhãs pelo tempo do arrojo!
Sopra, vento do mar e traz a tempestade a latejar ao âmago
Do meu coração de séculos, do meu coração marcado no futuro
Rijo como um trovão e tênue como uma flor, feito ruido e segredo.
Sopra, vento do mar e repercute nos veios da memória clara
As caravelas desfeitas nos baixios, os caminhos reais do impossível,
A contínua e secreta vingança contra os deuses!
Sopra, vento do mar, nítido e arbitrário como um terremoto
E faz na tua vibração indomável estremecer
A branca espuma atávica que me percorre as veias e o desejo!
ANTÓNIO SALVADO
António Salvado
© Todos os direitos reservados
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