AGUARDARÁS O TEMPO

 

 
“AGUARDARÁS O TEMPO…”
 
Aguardarás o tempo da vindima:
que as uvas sofram, como bem-fazeja
dádiva férvida, o calor de enlevos
que aproximar vai o verão do fim.
 
E só depois as poderás colher,
e só depois tu poderás  fremindo
esmagá-las sem dor    com a leveza
com que se beija um corpo em cio unindo-se.
 
Aguarda pois. E faz da tua espera
a certeza insuspeita de que um dia
há-de num copo rutilar o vinho –
 
e nos teus dedos    em papel modesto
fulgirá o mistério da vindima
transformado nos versos que nutriste.

António Salvado
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