Lentamente cai a noite de agosto
a umidade e o frio
toma conta de meu corpo
a última dose de vodca no copo, preocupa-me.
Há uma sensação de inquietação
é a faceta nua dessas habituais noites
de inverno. Tédio.
Sem voz, inexpressiva, uma figura distante a me fitar.
Adoto uma postura de indiferença, aliás, mantenho.
Não quero nada. Não quero conversa. Não quero olhares.
Fecho meus olhos como se fosse limpar secreções deixadas
Por minhas lentes.
Agora, incrédulo, fico pasmo pelo último gole que
jaz em minha garganta.
Sem saber o que sentir,
Olho uma tela amarelada na parede.
Não defino o que é. Não importa.
Uma profusão de não-sei surge em sensações.
Mantenho?
Meus olhos doem.
As réstias de cebola num canto e alho noutro,
lembram-me cantinas portuguesas, sem entanto,
mero fado reminiscente.
Vejo as coisas, somente pelo que aparentam.
E basta.
Sinto-me raso. Nestes momentos, sinto que posso
me afogar.  Seco estou.
O estio aumenta minha sede. Grito.
Sede. Muita sede. Preciso beber. Filho da Puta do
Garçom.
Quanto mais preciso dele. Nada.
Fico ansioso. Espero...espero... ainda espero.. porra...
Ah! Lá vem. Reduzo seu trabalho.
 Traz a garrafa.
 
 
II
 
Gelo, muito gelo.
Talvez porque tenha uma similiariedade com ele.
Frio e inconstante. É o que sinto no dia todo. Desde que abro meus olhos.
Preciso de muito gelo. Não gosto da ardência gratuita. Quero o beijo inicial,
Quero o afago, quero os sussurros.
Copo cheio, já não há mais ninguém. Só eu e ele.
Ainda estou podendo derrotá-lo.
Escuto o telefone no meu bolso. Insistentemente toca.,  sem o mínimo tesão..
Quem deve ser... neste estado, neste momento, nada mais me interessa.
 
III
 
(...) Um apagar, uma ausência contumaz, um segredo ou vários.
 
IV
 
Sabia que não era cedo, sentia que não era cedo.
Se passara um dia e não me apaixonara por ninguém.
Ainda não te conhecia (detalhes).
Grito. Garçom. Muito guardanapos. Me arruma uma caneta.
Abri todos. Olhei-os e imaginei, quem eu poderia estar apaixonado
naquele momento.
...
...
...
Nada.
 
V
 
 
 
                                                                                                      (...)
 
 
(...)
 
Inverno, 2011
Sergio Saldanha in O descongelar do iceberg.
 

sergio de macedo saldanha
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