Com as mãos, com os olhos, com os corpos, com os lábios
Figurantes do amor em sua primeira cena
Afobada certeza de um texto decorado
Aprimorado pela improvisação do inusitado
Quanta ousadia têm...
Os figurantes do amor, na última cena
Esquecidos na imagem em algum canto direito
Atrás dos objetos secundários, à frente do fundo branco da tela
Aproveitando a trilha inesquecível, tema de seu amor
Motivo de sono para alguns em poltronas
Sem pouco importarem-se com o publico de hoje, ou de amanhã...
Se os figurantes do amor se amam
Quantas vezes a cena projetar-se em retinas
Escondidos pela imagem óbvia de uma cena
Expostos pela sub-liminar mensagem que incorporam
A brilhante atuação dos atores
Somada ao talento nato do diretor...
São na verdade sombras, fantasias da realidade despercebida
Na própria arte de imitar a vida
Pois os figurantes fundiram o fato com o falso
Ainda que raro, o amor real desflorado no cinema
E quanto não custaria a reprodução fiel do amor
Nas telas de todo os olhares
O trabalho que se faria primeiro em pesquisa
A fórmula do amor descoberta, filtrada das poesias
O estudo da transformação química do amor em imagens
Que, apreendido pelos olhos, faria agitar os corações
Ou, um pouco mais simples e ao mesmo tempo difícil
Se o trabalho do ator por si revelasse a perfeição do amor
Não há preço, todavia, que pague a experiência dos sentimentos
E os figurantes do amor em sua primeira cena,
Experientes que ficaram no primeiro contato
Com as mãos, com os olhos, com os corpos, com os lábios
Ousados em se descobrirem no escuro das cortinas
Sabem que jamais serão vistos pelos olhos humanos
E por isso simplesmente vivem enquanto outros representam
Sem cortes e sem se preocupar com a perfeição das cenas
Vivendo a arte do amor, na contracena...
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