Como me causam saudades estes momentos que nunca vivi.
Aqueles passeios que eu tanto preciso onde ainda não estou.
Aquela pessoa que por motivo algum desvia a sua atenção de minhas palavras.
Aquelas amiguinhas de escola que hão de vir, não mais pra mim e sim pra minha irmã, enfim.
Aquela aproximação por mim tão desejada, de uma pessoa tão querida, porém infinitamente ausente neste momento. Um encontro de Pai e Filha.
Aquele reencontro terno, de duas pessoas que souberam se entregar, que puderam sentir um abraço tão perfeito, uma companhia, a mais pura e delicada sensação de alegria. A mesma alegria que me deslumbra, que embeleza essa nostalgia de agora.
Como eu sinto saudades de uma época tão distante? Não sei. Talvez por não estar tão longe assim.
Há vezes em que eu preciso de um motivo... Nem sempre fará sentido.
Meu corpo inteiro está sob efeito de analgésico, mal sinto o que sinto. Mal penso em dor. Mal posso sentir minha própria dor agora.
Será que eu sou a única peça deslocada? Sempre estive. Eu sempre serei essa mesma peça deslocada?
Um quebra cabeça não é feito de uma única peça. Será que eu estou no lugar certo? Se estiver, então onde estão as peças que deveriam estar ao meu redor? Elas existem, não existem?
Eu gostaria de saber com quem é que eu falo, se existe alguém que prestaria atenção, que notaria todas as interjeições que eu dedico a mim mesma.
Eu queria alguém que apontasse pra algum lugar e me dissesse: Olhe.
Há tanta beleza nesse gesto, onde compartilhamos coisas, fantasias, grandes imaginações e coisas.
É almejar muito nessa vida tão curta querer dividir um ponto de vista, um ideal, uma reflexão qualquer, uma bobagem sequer, é?
Tem alguma coisa em você que faz com que eu me sinta legal, aberta, descontraída, até infantil, mas não temerosa.
Intuitivamente percebi que se eu tentar, de intuição passará para fato, que acredito mesmo que há muito mais, que você pode ir muito além dessa bastante recorrida atitude humana de ter sempre um “Muito Bom” afiado e bem na ponta da língua.
Não é verdade que há casos em que palavra alguma pode ser o suficiente? É difícil de entender que meus amigos não entendam.
Não é fácil ser objetiva quando se trata de mergulhar dentro de nós e apalpar nossos próprios medos, enganos, mágoas, buracos fundos, lugares ocos, ressentimentos, perdão não perdoado, amor muitas vezes em falso.
Existe uma bagunça enorme e ambos sabemos que isso é apenas o começo. Somos muito profundos quando temos os olhos certos (quando encontramos os olhos certos para nos vermos). Extraordinário é o que somos diante de tanta perfeição, frente a tanta magia nesse corpo em absoluto cárcere, às vezes fraudado.
Por isso acabo derrotada por mim mesma, por não saber decifrar. Somos tão imensos, tão profundos que podemos ficar horas absorvidos em nosso interior, nesse complicado estado de interiorização que ao sairmos não saberemos nem um terço do que somos, do que temos guardados em nós.
Talvez não seja bem isso, por ser inexplicável.
Quando tivermos oportunidade, não precisa dizer nada, além disso, se não quiser. Nada, além disso, se não quiser...
Qual o seu nome?

18/11/04