Espírito de concreto

Espírito de concreto

Tapajó, cacique Açi

saiu do mato para estudar

Tamanduaré, tribo Tupi

Índio Marí foi se aventurar.

 

Chegando lá só viu concreto

duro e cinza, como fumo de tucuruí

Foi para a escola, aprendeu a pintar

chegando lá não entendeu.

 

   "Os branco se entreteu.

   Eu índio Marí, tribo Tupi

   Vim caçar espírito branco."

   "Ih, malandro, se ferrou

   aqui só tem pai de santo.

   Mas se quiser, tem emprego."

 

Índio Marí decidiu trabalhar

Quando Deus-Sol durmia

Compenetrava com espírito branco

e juntos conseguiam papel

Num mausoléu de concreto duro.

 

Gaia mudou de caras

Quente e frio, o tempo passou

E naquela noite

quando Deus-Sol foi se deitar

Saíram para trabalhar

Numa oca com máquina de papel

   "Ih, lascou, PM chegou!"

 

Espírito branco correu

E quando Marí virou

viu mais espírito branco chegar

   "Eu, Índio Marí-"

Água de urucum jorrou de Marí...

                   *

 

No jornal do dia seguinte

   "Índio morto tentando assaltar banco."

Finalmente Marí entendeu espírito branco.

Espírito de concreto:

duro e cinza, como fumo de tucuruí.

Renato Gaspar
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