Queria sentar com Drummond,
lá no banco da praça.
Ficaríamos cúmplices a falar,
a ler poesias em companhia,
ou simplesmente juntos calar:
Dia e noite... noite e dia.
Sem se importar com o clarear,
se os casais vão ou não voltar,
depois de se enamorar.
Mas infelizmente, por ironia,
não sou a parceira ideal
do poeta e nem de alguém.
Sou aquela que ouve “causos”
e morre um pedaço caso, não
os entalhe na madeira do banco.
A mesma que não se ilude achando
que um dia o sol brilhará e que
alguém sentará do meu lado,
nesse que poderia ser barco.
Para dizer onde andou e por que
nem ouviu, me ignorou mesmo
depois de tantas poesias e que
por mim não voltou.
Aliás, tem dias nublados
como hoje, como ontem,
como amanhã e depois,
que eu não gostaria de ser
nem poeta, nem mulher,
nem barco, nem ninguém...
Eu gostaria de ser, na
verdade, coisa nenhuma.
Ou se pudesse escolher,
queria ser o próprio,
inanimado, banco da praça.

railda masson cardozo
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