Serei o doce canto do rouxinol
Serei o triste toque do piano
Serei de todas as terras a voz
Serei alarido, um grito
 
Serei as salgadas águas
Que reverenciadas vem
Até as beiras das praias
Lhes beijar os pés
 
Serei a cotovia que pia
Serei o violino que chora
Serei no campo a aurora
 
Serei do sepulcro a rosa
Não serei o defunto
 
Serei as asas do condor
Serei os olhos da águia
Serei tudo menos presa
 
Serei o sorriso em meio a lágrima
Serei a borboleta consolando as flores
Serei o beija-flor, sairei beijando-as todas
  
Serei a suave e a grave
Serei queda e amparo
 
Serei do suicida o cumplice
E do defunto o ressuscito
 
Serei sopro de vida
Serei veneno lindo
 
Serei fogo em gelo
Serei inverno no teu inferno
 
Serei tua graça
Serei tua desgraça
 
Serei o rosa ou vermelho
Serei o azul ou o preto
Serei o arco íris inteiro
 
Ninguém encontrara meu cativeiro
Estarei distribuída pelo mundo todo
Serei anjo amigo quando preciso
Serei palhaço aos que precisarem de um sorriso
  
Serei canfora nos corações machucados
Serei muleta aos atingidos
Serei colírio aos cegos de espíritos
Serei calmante a mentes perturbadas
 
Serei vaga-lume na madrugada
Serei sombra na lavoura
Serei alimento a matar as fomes
 
Serei tudo neste mundo
Água, luz, vida, alegria
Tudo pra deixar de ser eu mesma
 
Darei tudo de mim
Para que o mundo
Me desfigure e me mude
E torne num alguém
Que valha apena ser e vencer.

Allinie de Castro
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