Eu cresci ali no meio do jardim
Que vovó cuidava
E na roça que vovô carpia
E na minha amoreira
Eu voava no meu balanço
 
Minhas galinhas botavam
Já ia eu lá buscar
Pro vovô fazer mexidinho
E tudo lá era tão simplesinho
 
Mas era lá na chácara
Do vovô Armando
Qu’eu ficava a brincar
Na areia ou na poeira
 
Era lá qu’eu sentia paz
Longe da população
Da cidade `a poluição
 
Vovô ia banana colher
Ia eu logo atrás a correr
Os morangos nem coravam,
Pois eu logo os devorava
E na minha casinha
O teto era de maracujá
Até com florzinhas
Onde brincava de morar
 
Com a vovó eu ia plantar
As pobres florzinhas
Pra mais tarde vir a rançar
 
E tudo lá era tão especial
O Sadan me protegia
Era meu cão de vigia
Lá tudo era tão natural
 
A vage eu colhia
E todo dia
Na folia eu ia
 Lá na pedra do cachorrão
 
Minha distração
De noite era ouvir historinhas
Do vovô do meu coração
 
Chapéu de palha
Inchada na mão
Um matinho na boca
Vovô ia roçar
 
E vovó que fazia rosquinhas
Ai que delicia!
Ela tricotava
E me esquentava!
 
E o relógio balançava
Ao punho magro,
E a mão sempre passava
Arrumando o cabelinho
Que vivia arrumadinho
Todo cheirozinho
 
Vovô era meu herói
Matava até cobras
Lá vinha ele da roça
Mostrar sua coragem
 
Estante de madeira
Bem talhada eu venerava
Igual a mesa e cadeiras
O sofá marrom
E a poltrona do vovô
Sempre ali reservada
 
E de noite eu
Da minha cama via
A lua bem cheia
E risada de criança
Eu fazia ouvindo
Vovô roncar
E coceguinha eu fazia
Com fralda nos pés
Do vovô que dormia
 
Era tudo tão bom
Era tudo maravilhoso
Do vovô eu era
A neta querida
Por mim tudo fazia
Sempre de mim orgulhoso
 
Tempos bons que nunca pensei
Que se iriam e só na memória
Ainda existiria
Apenas na caixinha
De lembranças viveriam
 
Tempos que Deus
Deu-me a honra de muito aprender
Com vovô querido amigo meu
Aproveitei o quanto pude
 
Estive ao lado até no último momento
Sempre orgulhosa de um lutador,
De um guerreiro, d’um vencedor!
 
 
 
Á Armando Malvezi

Allinie de Castro
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