Ontem rasguei teu último retrato!
Encontrei vasculhando meus trapinhos,
E senti-me arrancando um dos espinhos
Que com outros causava-me maltrato;

Na expressão comovida do relato,
Ao tirá-lo dos pobres escaninhos,
Tentei me exorcizar de teus carinhos,
E da lembrança do teu rosto ingrato;

Mas confesso a você, de coração,
O sentimento que guiou-me a mão
Não foi ódio, afinal não sou ruim...

Só não pude evitar, no gesto ousado,
De ver no chão, num pedaço rasgado,
Teu sarcasmo sorrindo para mim...
 

josé riomar de melo freitas
© Todos os direitos reservados