CHOVE, MAS NÃO VENTA...

Sujaram os fios dos retalhos
De minha branca vestimenta
Mastigo nervoso entre os dentes
Uma bala bem gosmenta
Os pés seguem em frente
Filmando em câmera-lenta
No cérebro as nobres frases
Da prece da mãe-benta
Busco perdida na terra
Certa erva musguenta
Brotam sentimentos inconclusivos
De alguma região cinzenta
É sempre do lado mais fraco
Que a corda arrebenta
Encontro um bom patuá
Galho de arruda-fedorenta
Já então nem me preocupa
A limpeza da fardamenta
A barriga agora é que pede
Frango caipira e polenta
Tento fugir mais de mim
Da verdade que atormenta
Dou-me conta do tempo
Chove. Mas não venta...
Gê Muniz

Gê Muniz
© Todos os direitos reservados