Nem tão difícil é manter-se em pé.
Mas as mãos não desgrudam do chão
Prá lamber da poça a borra de café,
Que em tardes vias só pôde ter deixado um fanfarrão.

Encolhendo o peito, no queixo o coração,
Ainda mais leve, um joelho se arrasta em vão.
O outro desfalece na coxa,
E na cara está a poça, a pele dura na terra frouxa.

O que se faz é só cair, nem com arrasto.
Sem corte no vento nem trilha na terra.
Meu tronco parte da lama prá debaixo.
Cai lá embaixo prá onde o vento lhe enterra.

Colocá-lo esguio, a um andar esticado,
Vencer o empurro, mão no chão, a rasteira,
Subir prá deitar, falecer suado,
Brotar meu joelho, ralar os meus pêlos, sem eira nem beira.

Na cara do asfalto, meu rosto rasgado vê a Lua lhe seguindo.
Minhas palavras, girando fraseiam que és da rua!
Que mesmo tendo as unhas, dedos, mãos caindo,
Mantêm-se construído pelos nervos e faz mais: flutua!

 

Gustavo Martinez
© Todos os direitos reservados